20 de outubro de 2009

Moçambique: Renamo relaciona Guebuza com a morte de Samora Machel (Fernando Mazanga)


Renamo relaciona Guebuza com a morte de Samora Machel E diz que se Dhlakama vencer as eleições vai mandar publicar o relatório sobre a morte do primeiro presidente de Moçambique, a 19 de Outubro de 1986, em Mbuzini, na África do Sul “Não nos embalemos com aqueles que matam e rezam, empunham a pistola numa mão e na outra distribuem camisetas e capulanas. O sangue de Samora deve ser vingado afastando do poder aqueles que não querem divulgar o relatório do inquérito sobre a sua morte” – Fernando Mazanga Maputo (Canalmoz) – O porta-voz da Renamo, Fernando Mazanga, disse ontem, segunda-feira, que o sangue de Samora deve ser vingado, afastando do poder aqueles que não querem divulgar o relatório do inquérito sobre a sua morte. Os moçambicanos precisam da resposta de Guebuza, de quem matou Samora Machel, porque ele é quem chefiou a comissão de inquérito, diz Mazanga que pede ainda que se esclareça por que razão Samora Machel havia encostado Armando Guebuza, como ministro sem pasta, aguardando o seu regresso do exterior, o que não chegou a acontecer porque foi assassinado no seu regresso ao País? Fernando Mazanga disse, entretanto, que caso o candidato da Renamo à Presidência da República, Afonso Dhlakama, chegue ao poder, uma das suas prioridades será a divulgação do relatório sobre a morte do primeiro presidente de Moçambique independente, Samora Moisés Machel, há 23 anos, num acidente aéreo ocorrido em Mbuzine, na vizinha África do Sul, em que pereceram outros 33 membros das sua comitiva. Os pronunciamentos do porta-voz da Renamo ocorreram durante uma conferência de imprensa que convocou ontem em Maputo, precisamente para falar da passagem dos 23 anos da morte de Samora Machel. Segundo Mazanga, o relatório que promete será publicado pelo presidente do seu partido, “já foi produzido pela comissão de inquérito liderada pelo actual presidente da República, Armando Guebuza, mas por falta da vontade política, o mesmo mantém-se sem ser tornado público”. Naquilo que Mazanga apelidou por “fatídico acidente que roça o assassinato”, o porta-voz da Renamo disse que a vontade de esclarecer as circunstâncias do acidente foi ensaiada com a criação da Comissão Mista, entre Moçambique e África de Sul, para se apurar as reais causas que originaram o despenhamento do avião em que seguia Samora Machel e parte da sua delegação, mas nada foi publicado. De acordo com Fernando Mazanga, a referida comissão de inquérito era liderada, da parte moçambicana, pelo actual presidente da República, Armando Guebuza, e candidato pelo Partido Frelimo à Ponta Vermelha. “Acontece que até hoje o senhor Armando Guebuza ainda não disse aos moçambicanos o que aconteceu com o Tupolov (avião presidencial), que arrancou a vida do presidente Samora Machel”, disse ontem o porta-voz da Renamo. “Guebuza deve explicação aos moçambicanos” Para Mazanga, o presidente da República, Armando Guebuza, já fez várias presidências abertas, mas em nenhuma delas se dignou a explicar aos moçambicanos os resultados que a comissão por si chefiada apurou sobre a morte de Samora Machel. Guebuza “deve uma explicação aos moçambicanos sobre a morte de Samora Machel e seus acompanhantes, e como está em campanha eleitoral tem uma soberana oportunidade de explicar ao povo o que sabe sobre a caixa negra do avião soviético que vitimou o primeiro presidente de Moçambique independente”, desafiou Fernando Mazanga. Para o porta-voz da Renamo e candidato a deputado da Assembleia da República pela cidade de Maputo, “Samora era um combatente energético contra a corrupção, enriquecimento ilícito, o envolvimento (particular) de governantes em negócios do Estado”, práticas que segundo ele, “hoje são predominantes”. Quem lucrou com a morte de Machel? “Quem lucrou com a morte de Samora Machel? Quem está a beneficiar-se com a morte de Samora Machel? Por que razão mamã Graça já não teve coragem de apontar o conluio que vitimou o seu marido? Quem está a travar o actual Governo Sul-africano para não publicar o relatório sobre Mbuzine?”, são questões levantadas pelo político da oposição, Fernando Mazanga. Quem fez e quem faz… Depois dos questionamentos metódicos de Mazanga, o porta-voz da Renamo vai directo ao assunto e acusa a Frelimo de ter orquestrado a morte de Samora. Ironicamente disse: “toda a gente sabe quem fez e quem ainda faz matanças. Toda gente sabe quem fez e quem faz atrasar o País, eliminando cérebros que pontificam no País”. Num outro desenvolvimento, Mazanga disse que ao recordar Samora é preciso reflectir seriamente, e não nos deixarmos embalar pelos discursos metafóricos, desajustados com a realidade, destinados a lavarem o nosso cérebro. “Não nos embalemos com aqueles que matam e rezam, empunham a pistola numa mão e na outra distribuem camisetas e capulanas. O sangue de Samora deve ser vingado afastando do poder aqueles que não querem divulgar o relatório do inquérito sobre a sua morte”, diz Mazanga. Chega de mortes encomendadas Entretanto, a Renamo apela para o fim das “mortes por encomenda” e Mazanga afirma que “o presidente da República e candidato a sua sucessão tem a oportunidade para explicar as várias mortes que acontecem em Moçambique, praticadas por criminosos sem rosto”. “Estamos a falar da morte do Eduardo Arão, Rafael Maguni, Sebastião Marcos Mabote, José Manuel, Carlos Cardoso, António Siba-Siba Macuácua, entre outras personalidades que foram silenciadas sumariamente”, disse o porta-voz da Renamo. Não estávamos contra Samora Machel O porta-voz do partido liderado Afonso Dhlakama reconheceu, entretanto, Samora Machel “como um herói nacional”, e disse ainda que para a Renamo “nunca foi alvo a abater”. “A Renamo não lutava contra indivíduos, lutava contra um sistema. Nunca tivemos Samora Machel como um inimigo a abater. Tínhamos como pretensão, aquilo que nós sempre dissemos é que queríamos mudar o actual paradigma e colocar um Estado de Direito Democrático. Por isso, quando a Renamo entrou nas conversações exigiu que se abolisse a pena de morte que vinha sendo praticada”, concluiu Mazanga. (Egídio Plácido) 2009-10-20 07