1 de outubro de 2013

Os Marimbeiros de Zavala (1965)


Podem ser considerados com um nível de capacidade artística muito mais elevado que o da maioria dos músicos africanos na parte meridional do continente.

Os famosos «Marimbeiros» de Zavala pertencem ao povo chope, grupo étnico fixado no Sul do Save, entre Inhambane e João Belo e que foi o primeiro a tomar contacto com os portugueses vindos da Europa e o primeiro também a ser cristianizado. É, pois, secular a sua integração no conjunto de povos que forma a Nação Portuguesa.

A música das orquestras de timbilas dos chopes é sobejamente conhecida entre os maios que se dedicam ao estudo da vida musical africana. O musicólogo Hugh Tracey tem dedicado a ela especial atenção, sendo de opinião que «… a arte musical chope está longe de ser simples e primitiva. A notável fecundidade artística dos compositores e o elaborado dos bailados não permitem considerar estas manifestações da sua música na categoria de danças regionais. Colocam-nas, sim, num nível de capacidade artística muito mais elevado que o da maioria dos músicos africanos na parte meridional do Continente.

Estas actividades revelam carácter acentuadamente social, constituindo um factor de relevo para a manutenção da unidade tribal e para afirmação da comum lealdade dos seus membros ao respectivo chefe. As canções mostram desenvolvida intuição poética, quinda que a necessidade de combinar as letras com o acompanhamento musical e com os bailados ponha de parte a improvisação e a criação espontânea, características fundamentais e comuns da música folclórica africana. Por outro lado, os bailarinos necessitam de uma estrutura musical e vocal exacta para que possam sincronizar com ela os passos que acompanham por pancadas em perfeito uníssono dos escudos e das lanças ou machadinhas. Assim, necessita o verso de estrofes regulares e pré-estabelecidos, abolindo-se os caprichos dos executantes. Por todos estes motivos, torna-se indispensável a regência de um condutor que dê forma e que discipline o conjunto. O que não quer dizer que as letras, as músicas e a coreografia se petrifiquem.» Pelo contrário, Travey, após a sua viagem de estudo por grande parte do continente africano realizada em 1949-50, não deixou de frisar que, entre os chopes de Zavala, em todas essas facetas tinha havido renovação completa durante os quatro anos que mediaram entre as suas duas últimas visitas.

Esses poemas desempenham entre os chopes uma interessante missão de regularização e de condicionamento da conduta individual em conformidade com os respectivos valores culturais, missão em que só são igualados pelos aforismos. Reflectem as condições sociais, verberam as injustiças, criticam os que não cumprem os seus deveres ou os que abusam do seu poder, ridicularizam a vaidade, a preguiça e outros defeitos e comentam acontecimentos quotidianos.

Fonte: Arquivo Pessoal