19 de outubro de 2013

Insulto de Lisboa (Álvaro Domingos)


O Bloco de Esquerda em Portugal beneficia de indulgência e compreensão porque os seus mais importantes dirigentes ainda não sabem como devem apresentar-se ante a sociedade. Prometeram uma prática política diferente, sobretudo ao nível das lideranças. Mas em breve surgiu Francisco Louçã dizendo que o partido era ele, num arremedo de Rei Sol com tiques evidentes de Menino de Deus.

Os outros dirigentes sentados à mesa da liderança comeram e calaram. Mas o desastre eleitoral nas últimas legislativas ditou o afastamento do rei, que uma vez morto foi substituído por Catarina Martins, uma simpática bloquista bojuda, histriónica, politicamente assim-assim e sem a noção do que é ser líder de um partido com representação parlamentar. O cabotinismo é um adorno desaconselhável.

A humilhação que foi infringida ao Bloco de Esquerda pelos eleitores portugueses nas recentes eleições autárquicas deixaram o resto da “mesa” em fanicos e agora é o salve-se quem puder e o último a sair que enterre João Semedo, um verdadeiro erro de casting que merecia melhor sorte, dada a sua inegável qualidade política. Os ratos começaram a abandonar o navio logo no primeiro desaire eleitoral. Um deles assentou praça no “Expresso” e para compor a ração, dispara tiro instintivo contra Angola.
O bufão sobrevive rente ao chão, acotovelando vermes e minhocas, para ter algum espaço que lhe permita apodrecer. Um dos seus últimos bafos é altamente condenável. Chamou mercenários aos portugueses que labutam em Angola. Ainda que o biltre não mereça resposta nem responso, por uma questão de solidariedade temos de reprovar semelhante afronta.

Os portugueses que trabalham em Angola são gente boa e desempenham as suas tarefas com competência e profissionalismo. Estão sempre disponíveis. Respeitam os angolanos e muitos já constituíram cá família. Outros, depois do período de adaptação, trouxeram mulheres e filhos. Regra geral, os portugueses são os mais entusiastas e activos agentes da reconstrução nacional. Não merecem que um bloquista oportunista lhes chame mercenários.

Porque apesar de terem sido acolhidos em Angola fraternalmente, quase todos têm saudades da sua pátria e enviam todos os meses para Portugal as suas poupanças. As remessas dos emigrantes portugueses que trabalham em Angola estão em terceiro lugar, depois da França e da Suiça. Também por isso não merecem que um escriba desalmado lhes chame mercenários.

Mas sobretudo porque o Bloco de Esquerda tem grandes responsabilidades na situação em que Portugal hoje se encontra e que levou centenas de milhares de portugueses a deixaram a sua terra natal, as suas casas, as suas famílias e os seus amigos. A direita deu a Louçã e seus acólitos todo o espaço nas televisões, rádios e jornais. Eram as estrelas da companhia. Como resultado dessa exposição mediática, o Partido Comunista enfraqueceu.

Como a receita funcionou bem, a direita pôs Francisco Louçã e os seus papagaios a atacar o Governo do engenheiro José Sócrates, o melhor que Portugal teve depois do 25 de Abril. Num quadro de gravíssima crise internacional e particularmente na Zona Euro, o Bloco de Esquerda ajudou a direita a derrubar José Sócrates, escancarando as portas à Troika que desde então, confisca tudo quanto é dinheiro aos portugueses que vivem dos seus salários e das suas pensões e reformas.

Chamar mercenários aos portugueses que cá trabalham é uma indignidade revoltante. Se aqueles que são a voz oficial de Pinto Balsemão vivessem em Angola, se vissem os olhares tristes de muitos portugueses que deixaram tudo para trás para poderem sobreviver e manter as suas famílias, não se atreviam a semelhante monstruosidade.

Em Angola não há portugueses mercenários. São todos bons cidadãos, trabalhadores, educados e responsáveis. A direcção do Bloco de Esquerda só tem um caminho: desautorizar imediatamente o farsante que ousou insultar milhares e milhares de portugueses que além de estarem a governar as suas vidas e as dos seus familiares, ainda mandam remessas de dinheiro para que a garotada que tomou de assalto a política portuguesa se divirta à grande e à francesa. Para aqueles que são a voz oficial de Pinto Balsemão não há crise. Nadam todos em dinheiro. Por isso, a infâmia é ainda mais condenável.

Os mercenários portugueses estão todos em Lisboa e os mais desprezíveis pertencem ao império mediático de Pinto Balsemão.

Jornal de Angola, 19 de Outubro de 2013