27 de março de 2012

Continua o braço de ferro entre vendedores e o Conselho Municipal de Maputo


Depois do Conselho Municipal ter autorizado a prática do negócio de rua em algumas avenidas da cidade de Maputo, uma medida que exclui os passeios das escolas e dos hospitais, ainda se verifica uma certa resistência por parte de alguns vendedores, que afirmaram ao SAPO que “custe o que custar, não iremos deixar de vender aqui”.

Após um encontro de concertação entre a edilidade e os vendedores dos passeios de forma a sensibilizar aqueles comerciantes à abandonarem os locais considerados de riscos e impróprios para a prática comercial, a proposta não foi aceite pelo grupo, facto que obrigou o Edil a ceder a pressão tendo logo estabelecido que somente proibia nos passeios das escolas e dos hospitais.

A medida foi tomada a menos de um mês e não foi cumprida até agora. Um facto testemunhado pela nossa equipa de reportagem que visitou algumas escolas e o Hospital Central de Maputo (HCM), onde constatamos a existência de vendedores nos passeios, que se recusam a deixar estes locais de venda.

Isabel Matsinhe de 36 anos de idade, mãe de quatro filhos e divorciada é uma das vendedoras do passeio do HCM há quase cinco anos. Matsinhe ouvida pelo SAPO afirmou que “é difícil sair daqui porque para além de ser o meu ganha-pão, tenho ajudado muitos doentes e os seus familiares, pois eles não têm que deslocar longas distâncias para comprar frutas, compram tudo aqui, mas não somos compreendidos”.

Uma das coisas que passou despercebido era “o trabalho que fazíamos, pois variámos todos os dias”, confessa.

“Iniciávamos no ministério da saúde e íamos até ao fim do murro, na parte frontal do hospital, para podermos vender os nossos produtos e eles em nenhum momento reconheceram isso”, disse Isabel.

Ainda sobre o braço de ferro que se vive Isabel considera sentir-se prejudicada visto que, com o valor da venda ela conseguia pagar a renda de casa, alimentar e pagar a escola dos seus filhos, “mais nesses dias esta difícil porque todos os dias temos que correr de um lado para o outro para evitar os polícias que vem aqui para correr connosco, mas nos resistimos porque é aqui onde conseguimos vender alguma coisa em relação a outros sítios onde já fomos e não vendíamos quase nada”.

Tal como a Isabel, muitos dos vendedores ouvidos pelo SAPO, explicaram que a sua aposta em vender nos locais proibidos pelo Conselho Municipal, deve-se ao facto de nestes locais o negócio correr razoavelmente bem e os lucros surgem com muita facilidade ao contrario de outros pontos.

Na avenida Guerra Popular, em frente a antiga fábrica de cerveja Laurentina, encontramos Almirante Cossa, um dos vendedores de rua que prática aquele tipo de comércio há 12 anos, ciente do perigo que corre no seu dia-a-dia por vender no passeio, Almirante Cossa disse que “é uma coisa que todos vendedores sabem, mais a falta de emprego e a pobreza faz-nos correr este risco. Para Cossa, “se não vendesse nem sei o que seria de mim nesse mundo de discriminação que nós albinos sofremos no dia-a-dia”.

Do negócio de rua Cossa consegue levar para casa 500 a 700 meticais. O dinheiro vai directamente para o sustento dele e dos seus três irmãos sendo dois dos quais mais novos e que frequentam a escola graças ao negócio feito por ele.

À semelhança da Isabel, Almirante e Cossa, vários outros vendedores de rua manifestaram também as mesmas preocupações: “Não aceitamos e nem aceitaremos deixar de vender no passeio porque é aqui onde ganhamos a vida, vestimos e pagamos a escola dos nossos filhos através desse negócio”. É caso para dizer que o braço de ferro entre vendedores de rua e a edilidade de David Simango, contínua sem fim à vista.

Carlos Pussik

SAPO MZ, 27 de Março de 2012