1 de abril de 2010

Futuro do português não depende da bandeira do número de falantes


Futuro do português não depende da bandeira do número de falantes - opina escritor Mia Couto

O escritor moçambicano Mia Couto considera que o futuro da língua portuguesa depende mais da afirmação dos países lusófonos na cena mundial, nos mais diversos domínios, do que da "grande bandeira", muito agitada, do número de falantes.

Numa entrevista à Agência Lusa, à margem de um colóquio internacional sobre a sua obra realizado recentemente em Antuérpia, Bélgica, um dos grandes nomes da literatura lusófona defende que o peso da língua portuguesa no mundo dependerá daquilo que os países de língua oficial portuguesa fizerem para se afirmarem em áreas que não propriamente as linguísticas, dando como exemplo o despontar do Brasil como potência mundial.

"O futuro da língua portuguesa é muito o futuro daquilo que seja a nossa afirmação – dos países que falam português –, como países que podem ter um outro lugar no mundo, a nível da economia, a nível da política, a nível daquilo que possam ser exemplos de caminhos que são inovadores, que sejam alternativos a uma coisa que está muito fatigada, que é o discurso político que hoje domina o mundo", declarou.
Para o escritor moçambicano, "esta língua tem que ter um futuro naquelas áreas que não são propriamente linguísticas".

"Acho que o futuro da nossa língua não depende só disso que é a grande bandeira do número de falantes, ou do peso demográfico que os brasileiros, portugueses, angolanos, moçambicanos, etc, possam ter", disse, sustentando que o futuro depende muito mais do que está a acontecer por exemplo no Brasil hoje.

"O Brasil hoje está-se afirmando como uma grande potência a nível mundial e isso pode ter um efeito sobre o futuro da nossa língua muito mais do que o discurso passadista de lembrar quanto glorioso foi o passado desta língua", afirmou.

Da mesma forma, Mia Couto considera que a aproximação entre os países da CPLP depende mais de outras políticas do que a linguística, quando questionado sobre os efeitos da entrada em vigor do acordo ortográfico.

"Por que é que existem distâncias, por que é que existem desconhecimentos nesta família? Não é porque nós temos alguma dificuldade em ler os brasileiros, ou os brasileiros lerem-nos a nós (…) Não vejo que, automaticamente, por termos uma grafia comum, os brasileiros possam perceber melhor onde é que é Moçambique, por exemplo", disse.

"Há aqui um profundo desconhecimento que, para mim, é muito mais grave do que qualquer questão ortográfica e que passam por políticas de aproximação, por políticas de troca de informação que não existem", concluiu.

Mia Couto falava à Lusa em vésperas da Conferência Internacional sobre o futuro da língua portuguesa que hoje termina em Brasília, culminando com a VI Reunião Extraordinária do Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Maputo, Quarta-Feira, 31 de Março de 2010:: Notícias