28 de fevereiro de 2010

Objecto de José Miguel Júdice: Os cabelos de Inês de Castro


Objecto de José Miguel Júdice

Os cabelos que recordam o maior romance da História

O advogado guarda uma relíquia que lhe chegou por herança familiar – Um antepassado recebeu de Wellington os cabelos de Inês de Castro.
Há sempre objectos que nos fazem sorrir, sonhar, sofrer ou sentir. Mas este é o que José Miguel Júdice tem de historicamente mais interessante. Um objecto que lhe diz muitíssimas coisas. Os cabelos de Inês de Castro guardam a memória da mais bela história de amor da História portuguesa. São a lembrança de mais uma destruição de património, pois o cabelo foi recolhido pelas tropas de Wellington depois de ter sido profanado o túmulo pelas tropas napoleónicas. Sofreu as consequências das guerras e chegou aos dias de hoje pela transmissão de geração em geração de uma relíquia que exprime uma continuidade familiar e a recordação da Quinta das Lágrimas, em Coimbra, onde esteve quase dois séculos.

E como vieram alguns cabelos de Inês de Castro ter às mãos do advogado José Miguel Júdice? "O bisavô do meu avô foi ajudante de campo do Duque de Wellington e, como os seus oficiais sabiam que ele era dono da Quinta das Lágrimas – onde se diz que Inês de Castro morreu – fizeram um pequeno relicário e ofereceram-lho como recordação", conta o próprio. E são mesmo os cabelos de Inês de Castro? "De certeza absoluta. A informação foi transmitida de geração em geração. Existem, aliás, mais alguns cabelos retirados na mesma altura do túmulo, um dos quais foi levado por D. João VI para o Brasil e outro que fazia parte da colecção do fundador do Museu do Louvre, Denon".

RELÍQUIA

José Miguel Júdice diz que nunca lhe tentaram comprar este objecto mas que também nunca o venderia. A sua intenção é um dia doá-lo à Fundação Inês de Castro para ficar em destaque no seu espaço museológico na Quinta das Lágrimas, onde já existe a melhor colecção de temas inesianos. "A colecção pode ser visitada no hotel , até que seja possível criar um espaço próprio da Fundação, que já está previsto para a Quinta das Lágrimas".

O que mais admira em Inês de Castro é a força do amor e a sua ligação à tragédia. "É indiscutível, no plano histórico, a força da paixão que uniu Pedro e Inês. Por isso ele fez gravar no túmulo, em Alcobaça, ‘até ao fim do Mundo’, como sinal dessa paixão. Mas, ao mesmo tempo, essa linda história de amor acabou em tragédia, como sempre é a condenação à morte de uma pessoa inocente".

E sobre Pedro e Inês? "Não é possível distingui-los: "Somos uma coisa nós/ Em ambos um só fim,/ Eu não sou em mim sem vós,/ Nem vós não estais sem mim", disse o poeta Sá de Miranda". Como em todas as histórias de amor perfeitas, os amantes não se distinguem.

ESPÓLIO JUNTA VÁRIAS OBRAS SOBRE INÊS

José Miguel Júdice reuniu ao longo dos anos um verdadeiro espólio sobre Pedro e Inês. A colecção inclui livros com obras sobre Inês de Castro (romances, ensaios, poesias, teatro, etc.) de vários séculos e diferentes países. Incluem-se ainda gravuras, óleos e desenhos, cartazes de filmes sobre Inês de Castro e o levantamento de todas as obras sobre Inês em suporte digital. Estes cabelos repousam na sala de estar de José Miguel Júdice até voltarem para o seu lugar, em Coimbra. "O curioso é confirmar-se que Inês tinha o cabelo louro, o que era raro em Portugal".

PERFIL

Profissão: Advogado

Idade: 60 anos

Projectos: Ex-bastonário da Ordem dos Advogados, dá aulas e dedica-se à arbitragem comercial

Maria Inês Almeida
Correio da Manhã, 28 de Fevereiro de 2010