5 de fevereiro de 2010

Fome afecta milhares de pessoas em Moçambique


Distrito de Changara em Tete

Fome afecta milhares de pessoas

O administrador do Posto Administrativo de Chioco, considerado o celeiro daquele distrito, diz que a situação é alarmante e clama por medidas urgentes para se evitar perdas de vidas humanas.

Tete (Canalmoz) – Mais de 156 mil pessoas estão afectadas pela fome no distrito de Changara, província de Tete, refere fonte oficial. À semelhança do que ocorre noutras regiões do País, naquele ponto não chove há vários meses. A produção na presente campanha agrícola, 2009/2010, está totalmente comprometida. A população para além de consumir frutos silvestres como meio de sobrevivência, já está a vender o seu gado para adquirir comida.
Celestino Chacanhaza, administrador do Posto Administrativo de Chioco, considerado o celeiro do distrito de Changara, disse ao Canalmoz que a situação é alarmante e clama por respostas urgentes para se evitar possíveis perdas de vidas humanas.
“A população sobrevive na base de frutos silvestres como é o caso de malambe, fruta do embondeiro. Nesta campanha agrícola não se vai conseguir nada, pois os rios estão secos”.
Apesar do impacto negativo da seca visível a olho nu, em Changara, Celestino Chacanhaza disse que há zonas em que as culturas se apresentam boas, podendo, segundo ele, render alguma coisa.
“Menciono as zonas de Muchamba, Munfa-caconde, Dzunga e Chimbwe como sendo os exemplos à parte do que se pode considerar esperança daquela população. Contudo, “se não houver queda pluviométrica essas zonas também correm risco de saírem do mapa da produção”.


Venda de gado como meio de sobrevivência

Em contacto com a reportagem do Canalmoz, alguns residentes do distrito de Changara classificaram a situação de crítica. Contaram-nos que devido à situação aqui descrita, parte do gado está sendo vendida como forma de sobrevivência.
“Estamos a morrer de fome. Há muitos meses que não chove. As sementes que lançámos secaram completamente por isso nesta campanha agrícola não vamos produzir nada. Vendemos cabritos a um preço de 75 Meticais cada (1 USD=32,00 MT). Vendemos a este preço insignificante para conseguirmos sobreviver. Apesar de as autoridades proibirem, é preferível vender os cabritos para sobreviver porque se os mantivermos acabarão morrendo por causa da seca”.

Gado comprometido pela seca

Segundo Celestino Chacanhaza, devido à seca que assola o distrito de Changara, o gado tem poucas hipóteses de sobrevivência.
“A situação é crítica. Estamos numa calamidade que rapidamente precisa da intervenção. Caso contrário, para além de vidas humanas, vamos perder gado. E as culturas já estão comprometidas porque a terra está toda ela seca”.
Acrescentou que caso não chova nos próximos dias, as zonas de pasto vão-se transformar num capim seco o que poderá agudizar ainda mais a má situação para os animais.

Conselho Cristão de Moçambique em acção

Tiago Vilanculo, delegado provincial do Conselho Cristão de Moçambique em Tete, disse à nossa reportagem que em resposta à calamidade que assola Changara, a sua instituição, em “parceria com o Banco Canadiano”, vai desenvolver um projecto de construção de represas para beneficiar cerca de 1.500 famílias.
Segundo explicou, o projecto em causa deverá durar 3 anos.
“Apostar-se-á nas culturas de mandioca, milho, feijão, batata, entre outras. Já distribuímos sementes de milho, diversas variedades de feijão e mapira para a produção da segunda época”.
Tiago Vilanculo disse também que o mesmo projecto está orçado em 400 mil dólares, norte-americanos, disponibilizados pelo “Banco Canadiano”.
“Visa a construção de 21 represas das quais nove já estão a ser exploradas”, explicou.
A fonte referiu-se ainda a 2 campos de multiplicação de estaca de mandioca abertos pelo Conselho Cristão de Moçambique.

(Jorge Mirione)

2010-02-05