27 de agosto de 2009

Marte não parecerá ter o tamanho da Lua (Rosa Doran, 2009)

Marte visto pelo telescópio Hubble (NASA/ESA)
Marte não parecerá ter o tamanho da Lua Todos os anos, no dia 27 de Agosto inúmeros aspirantes a astrónomos muito desinformados esperam ver Marte nos céus com o tamanho da Lua. Um boato que surgiu em 2003 e promete acompanhar-nos por muito tempo. No dia 27 de Agosto de 2003 pudemos deleitar-nos com uma fabulosa sessão de observação de Marte com telescópios. O planeta encontrava-se próximo da oposição (denominação utilizada quando o planeta a Terra e o Sol se encontram alinhados) e a posição relativa das órbitas dos dois planetas (Terra e Marte) permitiu que a distância entre os dois fosse de cerca de 56 milhões de quilómetros. Tal aproximação só será superada em 28 de Agosto de 2287. Em 2003 pudemos observar - por um telescópio, é claro - a calote polar do planeta vermelho com perfeição e até mesmo alguns detalhes da superfície marciana como por exemplo as zonas mais rochosas e escuras. Para os amantes do céu, essas observações foram pura magia. A olho nu, o planeta era apenas um pontinho vermelho um pouquinho mais brilhante do que o habitual. O boato surgiu a partir de um email que informava que a partir de um telescópio com uma modesta ampliação seria possível ver Marte com o tamanho da Lua (comparando a imagem obtida no telescópio com a imagem da Lua a olho nu). Contrariando o ditado que diz que quem conta um conto aumenta um ponto, neste caso o que aconteceu foi justamente o contrário. Alguém achou mais divertido omitir a parte relativa ao telescópio e pronto, ai está a mensagem que provavelmente recebeu na sua caixinha de email: “Marte parecerá ter o tamanho da Lua”. Isso é algo completamente impossível. Basta fazermos algumas contas simples: Marte tem um diâmetro de cerca de 6,780 km, cerca do dobro do tamanho da Lua (3 475 km). Para ser possível observar o planeta com o mesmo tamanho que a Lua, a distância média entre a Terra e Marte teria de ser da ordem de 766 000 km, um valor consideravelmente inferior ao registado na oposição de 2003, 56 milhões de km. Desde essa época, a notícia volta a circular por email, blogues etc.. Pelos vistos, é daqueles boatos que vieram para ficar. É uma pena termos o mau hábito de gostar de notícias sensacionalistas: perdemos a possibilidade de ver a magia real onde ela realmente existe. Texto: Rosa Doran 27 de Agosto de 2009