27 de novembro de 2008

Oh! Liberdade! (Xanana Gusmão)

OH! LIBERDADE! Se eu pudesse pelas frias manhãs acordar tiritando fustigado pela ventania que me abre a cortina do céu e ver, do cimo dos meus montes, o quadro roxo, de um perturbado nascer do sol a leste de Timor Se eu pudesse pelos tórridos sóis cavalgar embevecido de encontro a mim mesmo nas serenas planícies do capim e sentir o cheiro de animais bebendo das nascentes que murmurariam no ar lendas de Timor Se eu pudesse pelas tardes de calma sentir o cansaço da natureza sensual espreguiçando-se no seu suor e ouvir contar as canseiras sob os risos das crianças nuas e descalças de todo o Timor Se eu pudesse ao entardecer das ondas caminhar pela areia entregue a mim mesmo no enlevo molhado da brisa e tocar a imensidão do mar num sopro da alma que permita meditar o futuro da ilha de Timor Se eu pudesse ao cantar dos grilos falar para a lua pelas janelas da noite e contar-lhes romances do povo a união inviolável dos corpos para criar filhos e ensinar-lhes a crescer e a amar a Pátria Timor! Xanana Gusmão (Timor)